terça-feira, 12 de novembro de 2013

Arte X Ciência

                  
                   Como dizia a música, "tenho alma de artista"....
 
 
                   Entretanto, ao longo da vida, venho me deparando com situações que colocam a minha alma em conflito. Sim, pois é difícil ter os pés no chão e a cabeça nas nuvens. Enquanto artista, quer-se ter o direito ao devaneio, mas eles tem seu preço, e é necessário calculá-los. Trabalhando em Lisboa, tempos atrás enquanto arquiteta, a minha primeira formação, me vi sempre precisando ceder à lógica da engenharia. Lembro-me de às vezes, secretamente odiar o escritório de engenharia que nos assessorava, pois fatalmente eles iam mandar engordar alguns pilares, considerando-se os cálculos complicados e complexos que eles faziam, levando em conta, inclusive, possíveis e para mim, impossíveis, sismos. Mas eles tinham razão, e certamente ninguém quereria pagar esta conta.
                   Tempos depois, enquanto Chefe e proprietária de restaurante, deu-se o mesmo, só que neste caso, uma só pessoa vivendo ao mesmo tempo, os dois lados da moeda. Uma versão light e gastronômica do Médico e o Monstro. Mas quem é o mal? Quem neste caso é o vilão? O bad boy ou girl? E penso que isto se vai dizer dependendo de que lado do jogo se jogue. Você é cientista ou artista?
                   Pois bem, eis-me agora, nesta terra nunca antes por mim habitada. A das ciências! E não falo daquela ciência que eu costumava flertar no conforto da minha cozinha estúdio, onde toda forma de devaneio era bem vinda, e se a ciência aparecia ( e aparecia) era muito e principalmente para a permissividade de tais devaneios. Mas agora eu estou do lado do inimigo. Aqueles da engenharia. E lá vai a arquiteta que há em mim, lembrando-se dos velhos tempos, querendo outra vez entrar na guerra. Só que neste caso, eu também estou lá no lado a ser combatido. E então, só me resta entende-los.
                   Ok. É fato que sinto uma pontada no meu coração, quando descubro que os perfumes das rosas produzidas em série foram silenciados, pois o desperdício de energia gasto por elas para a produção do mesmo, é tão grande, que tornaria a sua produção em série extremamente dificultada. E todo mundo quer uma rosa em seu jarro, certo? E quem fala em rosas, fala em tomates, onde o mesmo se passa. Mas há outras situações que devem ser vistas, como por exemplo, a segurança que se tem ao tomar um leite pasteurizado, que foi produzido há milhas de distância de quem o está consumindo. A certeza de que ele não prejudicará nossa saúde pela presença de micróbios, não obstante o fato de ter vindo de longe, é tranquilizador. E se queremos leite das vaquinhas dos Açores, porque não as frutas vermelhas dos países frios e as bananas e papaias do clima tropical?
                  Sabemos que a dualidade nos pertence, e que a globalização nos deu acesso à todas as culturas, e consequente curiosidade e cobiça de produtos exóticos. E também é verdade, que nos dias que se seguem, não é lá muito romântico ir ao campo, pegar espigas de milhos, secá-las, moê-las, pisá-las e fazer a farinha do cuscuz, por exemplo. É tão mais prático pegar um pacotinho daqueles prontos do supermercado, que além do mais, vai ter o mesmo padrão que desejamos e buscamos.
                 Então como resolver este conflito do bem e do mal, do médico e do monstro, do cientista e do artista? Penso que o segredo está em saber contrabalançar, em encontrar o equilíbrio, em deixar que um não apareça em detrimento do outro, para que não se acabe a essência e desempenho brilhante e único de cada um. Pode ser que seja possível, pode ser que não sejamos mais tão consumistas, pode ser que passemos a nos contentar com o que temos ao dispor no nosso quintal. Quem sabe? Mas enquanto não mudamos assim tanto o mundo, vamos aprendendo a respeitar as dualidades. Quem sabe?