quinta-feira, 16 de maio de 2013

Saudade...

 Eu hoje quero falar de saudade e também de amizade. Quando vim para cá morar, ganhei de presente já alguns amigos prontos, pois eram já amigos da família. Outros eu conquistei. Lembro-me do dia que conheci a minha grande amiga Luisa. Eu tinha me mudado de Lisboa e estava morando em Santarém, e vivia aqueles momentos delicados que algumas mudanças na vida nos fazem passar. Luisa era minha colega de trabalho e daquelas pessoas que sorriem com os olhos. Usava duas trançinhas e achei-a extremamente generosa e disponível. Foi muito fácil gostar dela, e criamos rapidamente uma ligação. Ela era a mais brasileira das portuguesas. Lembro-me de sua espontaneidade, e de me sentir em casa na casa dela, que passei a frequentar. Quando me mudei para outra cidade próxima a Santarém, ela também foi dar aulas por lá. Foi um período maravilhoso da minha vida, onde eu me sentia muitíssimo feliz. Na casa dela, fazíamos aqueles almoços ensolarados, com os filhos e marido dela, e era tão confortável estar ali.
 
                                      Um dia, eu voltei para o Brasil. E um dia ela foi me visitar. E foi no outro ano também, levando junto toda a família e amigos. Foi fantástico. Na terceira vez, Luisa foi para ficar e mudou-se para oBrasil com marido, filhos e cachorro. Foi especial ter comigo um pedaçinho da minha outra metade de pátria por ali. Luisa era daquelas amigas de todas as horas, e só ouvir a voz dela me reconfortava, pois ela estava sempre disponível para me ouvir quando eu me sentia perdida na vida. Como sou meio cigana, um dia fui embora para Floripa e Luisa ficou em Natal. Depois de um tempo, quando voltei a Natal, ela decidiu regressar a Lisboa.
                                        Lisboa é minha segunda pátria e nunca deixei de vir aqui um ano sequer, desde que fui embora para o Brasil. E assim, continuamos sempre a nos ver, a nos divertir, a falar de tudo e de nada. No ano passado, minha amiga foi ao Brasil para realizar o desejo de dormir na Lagoa do Bomfim. E fez isto por noites consecutivas, sempre acordando muito cedo, apanhando um caju e mergulhando na Lagoa. Ela sabia que estava partindo. Quando voltou para Lisboa, Luisa foi ficando mais fraquinha. Eu sabia que precisava me despedir dela, por isso vim mais cedo para Lisboa, sem que ela soubesse. Minha amiga já não conseguia falar, mas como ela sabia sorrir com os olhos, foi o que bastou. Abriu-me o maior dos sorrisos e entendi o quanto se pode falar no silêncio. Ganhei de presente o último dia de Luisa, e fiquei extremamente agradecida de tê-lo recebido.
                                    Hoje, passado um ano de sua morte, percebo mais que nunca a finitude da vida, e a importância de recheá-la de coisas boas. De gastar o tempo com quem realmente importa, de viver a vida plenamente, para quando um dia morrer, não ter a sensação que se esqueceu de viver.  Aprendi muito com minha amiga, aprendi com ela vivendo e aprendi ao me despedir. E pelas lembranças doces que eu tenho dela, roubo a frase do rei roberto Carlos: "Você é a saudade que eu gosto de ter".

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