terça-feira, 22 de abril de 2014

O QUE COMEM OS CHEFS?


                Um dia, em uma aula que eu estava ministrando, uma aluna me perguntou com interesse, se todos os dias, eu comia pratos assim, empratados, bonitinhos e tal. Isso me deu um feedback da ilusão que se tem da vida de um chefe de cozinha. Todos limpinhos e impecáveis sentados à mesa com muita calma, sendo servido de um pratinho todo bonito, com muitas daquelas frescurinhas que gostamos de colocar. Lamento, mas isto está muito longe da verdade de um restaurante, e fatalmente da vida de um chefe.
                Em um restaurante, a prioridade para se alimentar é do cliente. Quando esse restaurante tem uma grande demanda, é lógico que a correria tem que ser prá se dar conta das produções, de todo o pré-preparo necessário a um restaurante a La carte. Nessas situações, às vezes o chefe simplesmente não come. Não dá tempo. Aliás, às vezes falta tempo até prá cozinhar pro Staff. Evidente que num restaurante existe a responsabilidade de alimentar toda a equipe e então temos que delegar, pois não se pode deixar essa equipe com fome. A comida deve ser simples, rápida e pensada prá deixar toda a brigada alimentada o suficiente prá agüentar a correria da cozinha e do salão, mas ao mesmo tempo, leve na medida do possível para suportar a jornada sem cansar.
                Então, depois de seis dias na semana cozinhando, testando, escrevendo cardápio, suando, quem deseja ir outra vez para o fogão prá cozinhar prá si mesmo? Quando eu morava em Florianópolis, o porteiro do prédio ficava impressionado quando eu chegava com comidas prontas e me dizia que eu cozinhava prá todo mundo, menos prá mim. É verdade! E eu sei cozinhar! Já fui flagrada por clientes com quentinha, já trouxe para casa desses congelados prontos de supermercado, e já comi coxinha de posto (gostosa por sinal, posso recomendar o posto). Evidente que não quero fazer desses meus hábitos alimentares. Não é saudável. É o que tem sido possível (mas isso eu não recomendo).
                Aí eu vou ser obrigada a confessar o inconfessável. Final de noite, depois de correr prá um lado e prá outro, se queimar, se cobrar, cobrar da equipe, montar muitos pratos, abrir e fechar forno a 250 graus, tudo o que se quer é relaxar um pouco. Como ninguém quer ir a um restaurante de um amigo e forçá-lo a fechar mais tarde, o habitual é correr para um lugar mais próximo. Em Natal eram os Postos de gasolina que tinham sempre uma conveniência aberta com uma cerveja gelada e onde se podiam fazer os comentários gerais da noite, numa espécie de reunião informal. E esse é até o lado mais VIP, pois existem aquelas paradinhas mais undergrounds que eu não vou entregar.

                Portanto, chefes alimentam bem, mas não necessariamente se alimentam bem. Evidente que existem dias em que é possível se fazer uma comidinha mais caprichada, é possível sentar-se a uma mesa, e também pedir um prato do cardápio, pois é necessário fazer avaliação de como eles andam saindo da cozinha. Mas o maior luxo é convidar um chefe amigo que esteja desejoso de mostrar uma novidade para a sua casa, e então se deliciar com uma excelente refeição. Por sorte, eu tenho alguns!

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