sexta-feira, 19 de julho de 2013

Memórias gustativas.....

                                   
                        A primeira vez que vim a Lisboa, nos anos 90, eu era uma arquiteta recém formada, atravessando o Atlântico, para, como tantos outros, tentar "a sorte" por estas terras lusas. Infelizmente, não nos é dado um manual de instruções, e de repente, você se vê bombardeada com tanta informação, que torna-se difícil processar todas elas. Eu pensava que Portugal era quase Brasil, talvez pelo fato de falarmos a mesma língua. Mas, mesmo a mesma língua, nem sempre chega a ser a "mesma língua". O acento português é muito diferente. O sotaque luso muitas vezes me deixou fora da conversa, pois nem sempre conseguia compreender todos os "s", todos o "sc" (piscina, que se lê quase pixina) e muito mais! Foi difícil, pá! E em se tratando de comida, muitos termos não tem absolutamente nada a ver, e podemos facilmente pedir uma coisa, e receber uma outra. Vejam só: O que é meia de leite? E prego? E tosta? E galão?
 
 
                                              Pois! Para quem não entendeu nada, aí tem uma foto de galão (café com leite no copo americano, pois na xícara é meia de leite) com torradas (pois a nossa torrada em Natal, aqui chama-se tosta). E o prego, definitivamente nos restaurantes, são mais do que aqueles pedacinhos de ferro para pregar coisas. Aqui ele pode vir no prato ou no pão, e pode comer sem medo, pois é nada mais que um bife. Ah! E já agora (como se diz por aqui) sanduíche é sandes! E tem sandes de tudo!!!!! Além das tradicionais de queijo, presunto (que aqui é fiambre, presunto é presunto cru) tem também sandes de "panado" (um bife à milanesa), sandes de omelete, e por aí vai...
 
 
 
                                              Talvez porque, mesmo vindo trabalhar como arquiteta naquele tempo, eu sempre estive de olho nas panelas, me lembro perfeitamente do primeiro prato que comi aqui, no almoço "de negócios" que eu participei para que se tratasse do meu futuro em terras lusas. Devo confessar que naquela época, estava mais curiosa em decifrar o cardápio do simpático restaurante em Alvalade do que em saber o salário que eu receberia. Até porque, eu não tinha a menor idéia do que era o escudo, a moeda vigente na época, nem quanto ela valeria em relação à moeda brasileira, que já nem lembro de qual se tratava. Assim, curiosa, decidi-me por um bife de espadarte, sem ter a menor noção do que era, mas porque tinha como acompanhamento couves de Bruxelas, e eu lembrava de ter visto este legume em histórias infantis, e morria de curiosidade em prova-los!

 
                                       Eu A-D-O-R-E-I! Adorei o bife de espadarte (espadarte é um peixe, só não sei porque dizem bife, mas também não sei porque chamamos filé de peixe) e as couves de Bruxelas, que a mim pareciam mini repolhos, também não me decepcionaram. Além de que, sempre gostei de frescurinhas, e achei as couves de Bruxelas uma coisa linda. Por muito tempo, as couves de Bruxelas marcaram presença no meu prato na hora do almoço. Depois, em momentos em que a vida por aqui ficou um pouco difícil (quem disse que é fácil ser imigrante?), as couves de Bruxelas também amargaram na minha boca. E parti para outras aventuras gastronômicas.
 
 
                                       Nunca mais as comi, mas ultimamente tenho pensado nelas com uma certa saudade. Pergunto-me se das couves propriamente ditas, ou se da primeira memória gastronômica em terras lisboetas. Se do primeiro olhar curioso sobre tudo que ainda iria se descortinar perante meus olhos e meu paladar, se de um tempo que o meu mundo ainda era muito pequenininho. Talvez eu as prove de novo. Talvez não. Talvez eu  apenas deixe que seu gosto fique guardado, colado na imagem do meu primeiro olhar curioso sobre as ementas portuguesas. Afinal, muito ainda há que se provar!
  
 

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